domingo, 7 de setembro de 2014

acusado in terno


a testemunha 
crava suas unhas
nas palmas do medo.
o juiz aponta o dedo: 
- culpado!

todos olham de lado, 
o alívio é imediato.
ninguém sabe como
mas, o culpado, de fato,
era o mordomo.


(que nesse dia estava de folga)

sábado, 6 de setembro de 2014

trechos e desvios

...as flores que escorregam dos meus olhos dão para o parque industrial. o petróleo que doura os olhos sem flores me afoga numa noite sem estrelas, enquanto sorvo delicadamente cada gole de frio.

paro um caminhão e encontro uma dor antiga ao volante. pelo visto, o passageiro, agora, sou eu.

depois de algumas curvas e desvios salgados, peço-lhe que pare no bar mais próximo, para que eu afogue lentamente os meus sonhos mais recentes numa dose de uísque.

nega-me e arrasta-me para o inferno, 
onde tudo é feito de engarrafamento e buzinas.

Vou para onde estão os outros passageiros, alongando, como eu, as correntes da castidade... 

toco-me só e em silêncio: 
gemidos não são bem aceitos pelos meus medos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

partindo de uma frase

partindo de uma frase
fui parar em outra esquina
onde quase tudo era quase
e onde quase nunca termina

virei a citação do momento
tendo aspas como morada
pousei onde não bate vento
e onde a língua da namorada
tem tradução e entendimento

aqui onde ainda é ontem
fui mais feliz que o normal
e peço que não me contem
o que há antes do ponto final.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ao mar

aos olhos teus, quando marés, 
os meus se desfazem, areia;
quando chegam à maré cheia,
fazem água ao molhar os pés.
basta que me sigam, apenas,
as marés aos meus pés tristes;
talvez mãos ganhassem penas
e se erguessem asas em riste.
então, olhos e asas molhadas,
irei sem saber pra onde vôo;

descobrirei a penas acidentadas
o quanto custa saber quem sou.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

força do hábito

me desliguei da vida feito um ser ilógico
eu pus nos pés a terra num passe de mágica
e morri feito amante que se entrega ao hábito

em sonho vi nos anjos um anseio fálico
mas despertei a tempo de louvar em cântico
e a voz foi de repente parecendo explícita

errando pelo claustro vinham freiras bêbadas
de vinho e de alegria por voltar do hospício
onde encontraram deus em sua santa cólera

temi que me ouvissem e num horror estúpido
mantive a porta aberta pra enganar o gênese 
e entreguei o ventre aos meus apelos mímicos

foi tudo calculado com cara de máquina
trinquei dentes num gosto que supus ser pólvora
e à voz dos anjos virgens explodi em música

terça-feira, 2 de setembro de 2014

alcoolírico

ponha um litro
de absurdo
com dois dedos
de absinto
para então 
de quando
em quando
entrar em coma
alcoolírico

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

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