segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

olha este cilindro

olha este cilindro
     que branco e lindo
                 entre os dentes

sente esses cinco minutos
                 até parece um paraíso
mistura de paz e de luto

            agora o amor entre os dedos
pequeno abraço de brasa
               quase morte de brinquedo

olha este fantasma
              símbolo de abismo
e beijo de asma




logo o galo cantará mais uma manhã

logo o galo cantará mais uma manhã.

fico à espera que o amor termine em minha cama, emprestada aos amores alheios. um cigarro antes do amor, durante, depois. enublo meus pensamentos sobre conversas de travesseiro, de sussurros, de suspiros, de promessas fáceis.

os amantes agradecem timidamente. mais promessas.

acendo outro cigarro.

em minhas mãos os amores do mundo. os cigarros de amor e a fumaça de amor. 

a brasa baila aos gestos do maestro.

os amores do mundo, aos meus gestos.

o passado é uma cama que logo fica vazia, é o eco das promessas de todos os homens que um dia passaram por ela.

outros cavalos e flores que um dia passaram por mim.

sabujos e santas prenhes de afeto fecundam os lençóis que um dia bordei com as promessas que ouvi.

de súbito, saio a fim de quebrar o pescoço do galo.

amanhã, outros amantes virão merecer minha cama, 

mas essa manhã que vivi não nascerá nunca mais.

a voz do violão vai com o vento

a voz do violão vai com o vento
bater na tua porta, te perturbar a janela
como se nem fosse madrugada
como se nem fosse serenata
e a voz que não diz mesmo nada
só serve pra acabar na tua boca
            feito doce que derrete com saliva

sms ao pai

se não posso matá-lo
      que seja algo atípico
perplexo momento mágico
    parecendo um parricídio
feito um ósculo ácido
     meio em ritmo de choro
uma saudação às facas
        um amplexo de édipo

soneto apagado

foste embora montando no passado
feito o cheiro que retorna no abraço
para ir-se novamente como o braço
que parece nunca ter me abraçado

ainda assim, dessa vez não me foi dado
o sossego de cair em outros braços
ou a glória de juntar os meus pedaços
e amarrá-los feito pedras ao meu lado

tu foste embora, como em outras eras
levando em ti todas as primaveras
deixando as sombras de um inverno estranho

meu consolo foi apenas teu perfume
infinito de paixão e de ciúme
que enfim pude esquecer depois do banho

artigos populares